Em 1995, ele era o parceiro predilecto do Pauleta no Estoril. Uma frente de ataque de respeito, com Curcic e Artur Jorge Vicente a coadjuvar. E já nessa altura, como agora, se podia dizer com propriedade que “os amigos do Cavaco safam-se bem”. O Cavaco, porém, não se safou tão bem. Quer dizer, houve piores, mas após um início auspicioso e até eufórico, a imagem dele destroçou-se com o tempo. Espalhava-se aos quatros ventos que ele era um especialista no difícil mester do golo, mas não fez a bola beijar as redes como o povo aspirava. E o povo cansou-se de pagar bilhetes cada vez mais caros para tão deploráveis espectáculos. Responsabilizaram-no por más épocas; ele tentou manter a pose e sair de fininho. Um movimento táctico que deixou de funcionar, até para os olhos menos analíticos e mais apaixonados dos meros treinadores de bancada.
Hoje em dia, pese embora o seu relativo obscurantismo e a postura taciturna, é um tipo que anda nas bocas do mundo – quase sempre pelas piores razões. Toda a gente diz “o Cavaco isto”, “o Cavaco aquilo”, “o Cavaco devia estar calado”, “o Cavaco sobre isto não diz nada”, “o Cavaco que venha ver isto”, “o Cavaco que se deixe estar quieto”… o Cavaco nunca está bem e já enjoa. As cavacas não; mas o Cavaco sim. O Cavaco podia ser mais fixe como o outro. Mas agora já não vai a tempo: o Pauleta só lhe fala por ocasiões estritamente oficiais e para manter o protocolo; o Curcic preferiu outras figuras para comporem os prefácios das suas obras de literatura infantil; o Artur Jorge Vicente disse que o ia visitar ao Algarve, o local de eleição onde passou várias temporadas, mas até agora nicles, safa-se com desculpas tão esfarrapadas como “ah, o sumo das laranjas do teu quintal faz-me mal ao pâncreas”. O Cavaco diz que tem uma conta bancária depauperada, perdeu amigos e anda triste, mas nós andamos mais tristes com ele.
Agora, equaciona mudar o nome para Pássaro – um belo apelido que esteve sempre ali à mão, a seguir ao tradicional Luís Miguel –, só para mudar de ares e quiçá voar daqui para fora quando fartar-se disto a sério. Como uma andorinha, antes que o chamem abutre.
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